quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Cifras

No momento em que a viu pela primeira vez
entrar por aquela porta, sua alma foi marcada.
Como que inebriado pela luz da sua imagem, ouviu um coro celestial:
"Amor que se faz sentir tão forte é eterno, é desde sempre, é para sempre".

"Volver a los diezisiete" - Mercedes Sosa y Milton Nascimento

Chuva

Os pingos de chuva desenhavam mensagens nas janelas. Falavam de amores antigos, dos bons tempos idos, de saudades, desejos, ausências, alegrias, tristezas...
Cada gota era como um retalho de vida, de ilusão, de sonho e de esperança. Os retalhos se sobrepunham, se misturavam e escorriam pela vidraça.

A cadência dos pingos na grama recém aparada entoava cantigas de roda, imitava risadas contidas de crianças brincando na chuva escondidas dos pais. O cheiro da terra molhada transformava os lamentos em murmúrios e gemidos de uma felicidade igualmente contida no peito e na boca, que o brilho dos olhos daqueles seres inventados pela chuva gritava mais alto que os trovões e eram mais claros que os relâmpagos que riscavam o céu.

Os últimos pingos golpeavam telhas e calhas repetindo antigas mensagens sem pronunciar palavra, num idioma estranho. Diziam à alma que há amores que se engrandecem e se expandem na proporção da ausência e da distância física entre os amantes, mas fenecem como delicadas flores fustigadas pelo sol quando submetidos à rotina. Como o sol que aquece e ilumina, mas em excesso resseca e mata a relva, também a rotina mata o amor, diziam.

A alma respondeu que o verdadeiro amor, em sua plenitude, se parece à rotina, mas é uma rotina de autoalimentação que o faz eterno, como eterno é o espírito. E a chuva calou...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Do tempo, do ódio e do amor

Lentamente, o tempo tragou
lembranças, sentimentos.
Devorou ódios, desamores,
lembranças em preto-e-branco,
sonhos mortos, esperanças rotas.
Lançou-os ao fosso da indiferença,
e o que seria vazio
parecia preenchido de amor.
O menino contempla o tenebroso
negrume do fosso.
Seus olhos iluminam o presente
como duas pequenas chamas
na escuridão
("Não há futuro nem temores" - dá-se conta).
Mira o que seria o vazio e sorri.
Não havia um vazio deixado pelas amarguras
das vidas e das esperanças traídas,
porque o que seria vazio é Amor,
é Perdão.
Sentimentos puros do coração do menino
(que se acreditava morto)
dominaram as trevas do ódio
e semearam Luz!
Na face e na voz, percebe-se
a expressão da força do guerreiro,
as cicatrizes das batalhas.
No sorriso fácil, a ternura,
a inocência da criança.
Há uma chama no olhar
do homem endurecido que,
agonizando, sorri.
Sorrindo, revive a felicidade de menino,
redescobre a Fé na Vida e a Esperança
que nunca estiveram perdidas.
Afinal, nunca se perderam de mim! - pensou.
Revive, criança! Renasce, espírito meu!
É tempo de Paz!
Perdoa o mundo, guri!
Minh'alma me perdoou...
(acaso és maior que Deus,
para não perdoar
a quem Ele já perdoou?)
Temos milhões de estrelas
e a eternidade para trilhar.
A eternidade não tem
passado
nem futuro...
Dá-me tua mão, guri!
A jornada é longa.
Vamos brincar com as estrelas...

Os Filhos

Os Filhos
(Do Livro "O Profeta" - Gibran Kahlil Gibran)

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:

Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Mihi ipse nunquam satisfacio

Flor de laranjeira,
aroma dos laranjais!
Evocas sorrisos e olhares,
suspiros e cheiros...
Cheiro de amor,
pele de seda,
sede de beijos!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

La rana y el príncipe (Joan Manuel Serrat)

Él era un auténtico príncipe azul
más estirado y puesto que un maniquí,
que habitaba un palacio como el de Sissí
y salía en las revistas del corazón,

que cuando tomaba dos copas de más
la emprendía a romper maleficios a besos.
Más de una vez, con anterioridad,
tuvo Su Alteza problemas por eso.

Un reflejo que a la luna
se le escapó,
en la palma de un nenúfar
la descubrió;

y como en él era frecuente,
inmediatamente
la reconoció.

Ella era una auténtica rana común
que vivía ignorante de tal redentor,
cazando al vuelo insectos de su alrededor
sin importarle un rábano el porvenir.

Escuchaba absorta a un macho croar
con la sangre alterada por la primavera,
cuando a traición aquel monstruoso animal
en un descuido la hizo prisionera.

A la luz de las estrellas
le acarició
tiernamente la papada
y la besó.

Pero salió rana la rana
y Su Alteza en rana
se convirtió.

Con el agua a la altura de la nariz
descubrió horrorizado que para una vez
que ocurren esas cosas, funcionó al revés;
y desde entonces sólo hace que brincar y brincar.

Es difícil su reinserción social.
No se adapta a la vida de los batracios
y la servidumbre, como es natural,
no le permite la entrada en palacio.

Y en el jardín frondoso
de sus papás,
hoy hay un príncipe menos
y una rana más.

Quanto basta

Mihi ipse nunquam satisfacio!

Em verdade, inverdades!

Quando gritarás "Hipócrita!"
diante do espelho, pentelho?

Das derrotas

Non enim virtute hostium,
sed amicorum perfidia decidi.
Cornélio Nepos, Eumenes 11.5

Incomparável

Um amor não é diferente,
nem maior, melhor ou mais bonito
que qualquer outro amor.
Assumir que um amor
pudesse ser mensurado
seria negar que os amantes
e seu amor sejam o que são:
únicos, insubstituíveis, incomparáveis.

Negar o não

Quando a razão nos impõe um "não"
e o sufocamos, dizemos "sim"
a nós mesmos e
ao nosso coração.
Quisera ocultar-nos da razão,
sufocar cada "não", todo "senão",
sempre que me sufocasse a saudade!

Único

O amor não existiria sem os amantes,
os amantes não seriam quem são
sem esse laço de luz, calor e paixão
que os une à distância,
desde sempre, para sempre.
É doce amar assim,
o amor não tem outro sabor.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Efêmero 2

Livre, minh'alma
permutará tempo
por eternidade.

Silencio

Silencio... Silêncio!

Futuro do pretérito

Ecoa no passado o silêncio
da palavra contida
da verdade calada.
Calasse a mentira,
silenciasse o medo,
o vazio não triunfaria
e o presente
sorriria ao futuro
no regaço do passado,
tranquilo...

Amar o amor

Se emudecesse a razão e
silenciassem as palavras,
ver-se-ia o amor
no brilho do olhar.
Cala-te, razão,
escuta minh'alma!
A vida escorre por entre os dedos
como a areia fina dos desertos.
Deixa meu espírito voar,
deixa-me tocar o firmamento...
Subjugar-te-ei, razão,
e romperei as cadeias
com um sopro de liberdade
(meu último alento)!
Minh'alma livre,
permutará tempo
por eternidade...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Primeiro Dezembro

Na tarde do sexto dia
de uma semana qualquer
começava verdadeiramente
Dezembro.
Um século terminaria.
A vida recomeçava
num pedaço de papel!
Construiriam nova era
com um punhado de sonhos
e muito amor esparramados
pelos anos vindouros.
Nos derradeiros Dezembros
seriam dois anciãos
de mãos dadas
olhando o poente
das tardes quentes,
sorrindo pelo passado,
sorrindo pelo presente.
Ah, se a vida acabasse,
se a vida não matasse!
Se a vida os permitisse
viver seus sonhos!

Ciega, Sordomuda
(Shakira Metabarak)

Se me acaba el argumento y la metodología
Cada vez que se aparece frente a mí tu anatomía
Por que este amor ya no entiende
De consejos, ni razones
Se alimenta de pretextos y le faltan pantalones

Este amor no me permite
Estar en pie
Porque ya hasta me ha quebrado
Los talones
Aunque me levante volveré a caer
Si te acercas nada es útil para esta inútil

Bruta, ciega, sordomuda
Torpe, traste, testaruda
Es todo lo que he sido, por ti me he convertido
En una cosa que no hace otra cosa más que amarte
Pienso en ti día y noche y no sé como olvidarte

Cuántas veces he intentado enterrarte en mi memória
Y aunque diga ya no más es otra vez la misma história
Por que este amor siempre sabe hacerme respirar profundo
Ya me trale por la izquierda y de pelea con el mundo

Si pudiera exorcizarme de tu voz
Si pudiera escaparme de tu nombre
Si pudiera arrancarme el corazón
Y esconderme para no sentirme nuevamente

Bruta, ciega, sordomuda
Torpe, traste, testaruda
Es todo lo que he sido, por ti me he convertido
En una cosa que no hace otra cosa más que amarte
Pienso en ti día y noche y no sé como olvidarte

Ojerosa, fraca, fea, desgreñada,
Torpe, tonta, lenta, nécia, desquiciada
Completamente descontrolada
Tú te das cuenta y no me dices nada
Ves se me ha vuelto la cabeza un nido
Dónde solamente tu tienes asilo
Y no me escuchas lo que te digo
Mira bien lo que vas a hacer conmigo

Bruta, ciega, sordomuda
Torpe, traste, testaruda
Es todo lo que he sido, por ti me he convertido
En una cosa que no hace otra cosa más que amarte
Pienso en ti día y noche y no sé como olvidarte