quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Desatino

O sétimo incorporará
a hipocrisia do sexto,
as falácias do quinto,
a indiferença do terceiro,
a insipidez do segundo,
a perfídia do primeiro,
e a insensatez
que fazes habitar teu quarto...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A hera e o rochedo

A hera ruma aos píncaros das encostas íngremes
beijando o rochedo gelado pelas águas da cachoeira.
Delicada, mas firme, agarra-se à rocha e, no topo,
alcança nesgas banhadas pelos raios de sol
que venceram as copas das árvores
para acalentar as sementes deitadas ao solo fértil.
No beijo da era, o rochedo sente o calor e a luz do sol
que nele fazem nascer uma alma.
O rochedo conhece a luz sem jamais haver saído
da escuridão dos grotões,
feliz na felicidade da amada...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Reminiscências

Erigiste a base daquele forte
com as imensas pedras que obstruíam teu caminho.
Pedras menores, facilmente transponíveis, de todos os tamanhos e formas,
as carregaste para compor a imensa torre que aponta ao firmamento.
Do ponto mais alto,
na ponta dos pés,
com as pontas dos dedos,
tentaste alcançar as estrelas.
Esforço vão: sobre as pedras do teu passado
jamais alcançarás estrelas e à sombra do fortim não verás o seu brilho.
Tens agora um monumento
de antigas pedras rearranjadas
que te obstrui o mesmo velho caminho que ainda terás de seguir.
Ficaram para trás as flores murchas que
abrigavam-se do sol impiedoso, sujeitas às mesmas pedras que te machucavam os pés. É o perfume delas que abranda o rigor da tua jornada.